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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Uma Semana nada poética

UMA SEMANA NADA POÉTICA
Contribuição de @marcia1907 (*)

“Agora falando sério
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta
Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá
Dou um fora no violino
Faço a mala e corro
Pra não ver a banda passar”


                                  Esta antiga música de Chico Buarque  me acompanhou a semana inteira, principalmente quando tentava escrever um texto alegre, para cima. Ela expressa exatamente o que estou sentindo por conta do que ocorre no país, no estado e na cidade em que vivo. Realmente eu fiquei com vontade de “dar um chute no lirismo” ao ouvir e ler tanto elogios a uma presidente que simplesmente determinou o  maior arrocho salarial dos últimos 16 anos.  Além disto, confesso que fiquei tentada a dar “um tiro no sabiá” depois de testemunhar o subchefe da Polícia Civil ser preso pela Polícia Federal por receber grana de bandido e ver o chefe da PC, em represália, armar contra o delegado que ajudou na operação da PF. Mas a vontade de fazer “a mala” me veio ao saber que a liminar que meu sobrinho pediu a fim de que o Estado lhe dê o remédio que ele precisa, foi concedida no dia 4 de fevereiro, mas até agora não chegou às mãos dele por conta de todo um processo burocrático. Tudo isto é de matar qualquer poesia...
                     
“Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar
Driblar, iludir
Tanto desencanto”
                             
                       Bingo! É isto o encanto se perdeu. Se foi por aquela rua em que um juiz deu voz de prisão a uma funcionária do Detran . O “crime” da moça foi ter mandado rebocar o carro de “sua excelência” por conta de atraso no pagamento do IPVA. Não dá para a gente continua se iludindo de que o país progrediu quando em meio a tantas “tenebrosas transações”, boquinhas, e manutenção do poder por velhos oligarcas se quer punir uma avó cuja neta caiu do quarto andar por que estava sozinha em casa. A mãe da menina está internada por uso de crak, o pai é ausente, e a avó sai à noite para estudar. O mesmo estado que não fornece o tratamento para a filha, não disponibiliza creche para a neta pune com prisão e processo a avó que sozinha banca todas elas...

                       Enfim, eu só citei fatos que ocorreram aqui no Rio. Se a gente pensar no que foi o noticiário do país nesta última semana até soa verossímil se dizer que por aqui o “amor-perfeito anda traindo, a sempre-viva, morrendo e a rosa, cheirando mal”. E eu nem quero me lembrar das opções políticas do autor desta música e sim torcer para que a próxima semana me traga algum alento. Afinal, outro poeta já dizia “brasileiro, profissão esperança”...

@marcia1907 Jornalista, Rio de Janeiro - Rio de Janeiro

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