Arquivos de Debates

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Consulta Médica



 

CONSULTA MÉDICA







Durante um telefonema com uma amiga, comentei que marcaria meu check-up anual. De repente, ela disse:
— Vou contigo. Marca pra nós duas.
Todo ano é assim. Pelos menos pra quem tem um mínimo de juízo, a visita de rotina aos médicos tem caráter obrigatorio: mastologista, ginecologista, oftalmologista, dentista... Pra mim, a lista é mais extensa, pois tenho que ir ao traumatologista, imunologista e ao dermatologista.
A minha amiga riu e falou que iria num ISTA novo: O DERMATOLOGISTA.
Eu ri e ela me informou que já estava na hora de procurar uns creminhos mágicos para tentar retardar ao máximo as marcas da inevitável entrada nos ENTA.
Sendo sincera, ela entrou gloriosa nesta seita, com direito a uma festa memorável, que durou até as 10h da manhã seguinte. Festa com música ao vivo, família e amigos, fotografias, filmagens e muita música ANOS 80. Realmente foi SENSACIONAL. Na verdade, ela está com tudo em cima. Ninguém podia cantar para ela a frase da Adriana Calcanhoto ‘nada ficou no lugar’.
Entretanto, ela andava de ponta com o espelho da casa dela.
— Mulher, aquele espelho desgraçado resolveu tirar barato com a minha cara. Da noite pro dia, resolveu me transformar de princesa maravilhosa em bruxa. Anda me mostrando coisinhas que nunca haviam aparecido. Uns pontinhos azuis nos tornozelos; pintinhas negras no colo, nos braços; bolinhas vermelhas na bunda... Olheiras profundas...
Pra variar, não contei conversa e cai na gargalhada. O caso merecia uma implicância e eu fui pro ataque.
— Hmm!... Apareceu do nada? Ou será que tu que nunca percebestes os sinais das trevas? Toma cuidado que o espelho mágico não mente.
— Como assim?... Não delira, pô. Tô falando pra você, o idiota resolveu mostrar e pronto. Mas isso não vai ficar assim. Marca o dermatologista e escolhe o melhor.
Bom, eu conheço aquela PRINCESA bem demais, então, lá fui eu marcar as duas consultas. Ficamos em contato e eu fui vendo que ela estava ansiosa e ficando psíca de nervoso. Basta dizer – claro que ela vai ler este texto e querer me dá uns belos tapas – que encarou a consulta como se fosse um encontro bem intencionado, daqueles em que a gente escolhe a roupa íntima com cuidado, que é pra não fazer feio, nem parecer que foi uma escolha proposital.
E eu continuei rindo as pencas dela.
No consultório, ela passou a tagarelar no meu ouvido, enquanto eu ria e fazia sudoku. Em alguns lampejos de atenção, eu conseguia captar algumas frases como: boa escolha, mulher... Ou: o cara é famoso e cutuca a pele de homem e mulher da high... Até que enfim deste uma dentro, hein?
A atendente disse o meu nome e entrei, com ela a tiracolo.
O médico falou:
— O que a traz aqui hoje, minha amiga?
Do meu jeito informal, já estava me aprontando pra fazer uma gracinha pra descontrair, quando a louca respondeu:
— Ah! Doutor. Minha amiga quer fazer algo pra tirar essa cor pink do rosto dela. Quando ela ri, fica vermelho vivo e não pega bem pra idade dela, né?
Senti o olhar do médico em cima de mim, mas eu estava mesmo era com os olhos grudados na jugular da minha amiga.
O médico me colocou debaixo de uma lupa genial, com uma luz detestável. Examinou e deu o diagnóstico:
— Bem, a coloração está normal. Aliás, está excelente. Sua pele é muito sensível e bem nutrida. Como se fosse pele de neném.
Enfim, deu os conselhos que sempre ouvi e segui, elogiando minha pele.
Ato seguinte, chegou a vez da minha amiga. O médico leu a ficha com os dados dela, olhou-a dentro dos olhos e perguntou:
— Agora a senhora... O que me conta?
E começou a minha diversão. As cortinas se abriram para que eu assistisse A Vida como ela é, de Nélson Rodrigues.
Minha amiga ficou vermelha como um tomate. E muda.
Ele sorriu e esperou.
Quase de olhos fechados, ela desfiou suas queixas. Ela estava disposta a mostrar cada defeitinho novo que estava observando através do maquiavélico e ex-amigo espelho do quarto dela.
Ele observou in loco cada uma das queixas, com a famosa luz de 200w e a mesma lupa.
E começou o diagnóstico. E começou a diversão ao ver a reação de minha amiguinha ouvindo o médico.
— As pintinhas são sinais do Sol, por todo o Sol que já tomou na vida. Com a idade [tóinnn!!!] elas vão aparecendo, cada vez mais numerosas. Vai precisar de um protetor solar pra sair de casa pela manhã, mesmo sem ir a praia. Para dirigir inclusive. Braços e pernas; rosto e pescoço.
[ela ficou branca. Era a primeira vez que falavam da IDADE dela. Eu estava como o Jô Soares diz: por fora, apática; mas por dentro, gargalhando]
— Mas eu gosto de praia...
— Evite. Só de 6h as 10h da manhã, sob proteção máxima, guardasol, óculos e chapéu. Bronzear-se, nunca mais.
[eu já estava ficando vermelha de tanto prender o riso. A turma dela só chega na praia as 11h e eu não lembro de ter visto a PRINCESA sem estar bronzeadérrima]
— Ahmmm!... E os pontinhos azuis?
— São pequenos vasos que não suportam a pressão do corpo sobre os saltos altos. Evite. Use sapatos com solado anabela ou baixos, de preferência. Compre uma meia elástica, Kendall, para quando tiver que usar saltos altos.
[não consegui ficar em silêncio. Emendei o início do riso com uma tosse pra disfarçar. Meias Kendall??? Naquela ali??? Como ela iria sobreviver sem as preciosas sandálias? Comecei a pensar em como sair daquela sala, pois a gargalhada explodiria a qualquer momento]
— Sei... Meias Kendall... E as bolinhas na...
— Isto é normal. Reflexo do calor. Para evitá-las use mais saias que calças. Evite o jeans e as calcinhas de lycra. As de algodão puro são as melhores... E folgadas.
[baixei a cabeça e comecei a me sacudir, rindo. Não conseguia parar de imaginar a PRINCESA com as calcinhas que ela comprava pra mãe dela – enormes na cintura e de florzinhas cor de rosa... Lágrimas começaram a rolar no meu rosto]
— Hã?!?
— Quanto as olheiras são de família. Não há muito o que fazer. Use esse creme a noite, antes de dormir, e procure não ir deitar tarde. Alimentação leve, com muita fruta e verdura, pouca carne e muito peixe. Nada de tabaco, nem álcool... Nem café.
[Não aguentei mais. Acabei assustando o médico. Cai numa estrondosa gargalhada. Pedi licença e sai do consultório, deixando-a sozinha com ele]
Alguns minutos depois, a porta abriu e lá veio ela. RINDO. E lá fui eu recomeçar a gargalhar. Pegamos o carro e cada uma cuidando da sua risada. Nada de conversa.
Tínhamos combinado de, na saída do consultório, irmos almoçar. Eu ainda estava recuperando o fôlego, pois RIR demais cansa. Quando ela pede o prato e uma porção enorme de batata-frita de entrada.
Ao notar o meu olhar, ela disse:
— Ele mandou comer verdura, não foi?
Sem conseguir aguentar, retruquei e, em seguida, liberei uma altíssima gargalhada:
— Só na tua terra que batata é verde...
§§§§§ ***** §§§§§
Alguns dias depois, ela me ligou. Ainda com a entonação risonha, ela me disse:
— Eu sou uma idiota. Eu deveria ter dito pro médico que eu trabalho muito e passo a maioria do meu dia escrevendo e lendo, ate as 2h da manhã, né?
— É, teria sido mais justo. Mas tu és muito lesa. A tua cara quando ele falou que tinhas que parar de beber e fumar, foi cômica. E o café?
— Ele é doido, isso sim! – ela disse irritada.
— Quer um conselho?
— Manda.
— É verdade que trabalhas muito, mas podias dar uma maneirada nas saidas boêmicas com os teus amigos... E vai por mim, usa as sandálias altas nas saídas; no dia a dia, segue o conselho do médico. Vais te sentir melhor.
— Nem fu... Eu não vou usar meias Kendall.
— Realmente. Até porque se estiveres usando na hora H, vão acabar rasgando as ditas.
E explodimos na gargalhada.
— Fala sério, mulher! Você consegue me imaginar de calcinha de algodão e folgada?
E eu continuei gargalhando.
— O doido quer que eu fique barata branca, pô!
— Alooo! Favor não mexer com a família, ok?
— Tá bom, mas... PQP, mulher, eu entrei naquele consultório me sentindo uma NINFETA e sai como se estivesse com OITENTA.
— Faz assim: troca a luz do teu abajur do quarto. É disso que tu precisas. Um abajur com luz de 15 w... Ah, é claro, um namorado que use óculos... Entendeu?
— Quase... Pra que eu vou precisar de óculos de macho a meia luz?
— Dããã! Tu és lenta, hein? Ainda bem que a lei protege os loucos de todos os gêneros. Prestenssaummmm, cérebro de ameba!!... Troca o espelho com aquele do quarto da tua filha. Espelho menor faz milagre e não mostra muita coisa... hmm!... Pra CURUBA da bunda tem uma solução caseira que vou te passar por e-mail. É tiro e queda.
— Minha bunda vai cair??
E toma gargalhadas.
— As bolotas pretas não tem jeito, que nem as olheiras... E arruma um namorado com óculos pr'o teste final. Ele a cada dia vai te achar mais linda. Quando quiseres ficar FATAL, tira os óculos da cara dele e... bom, APROVEITA!
— E o que eu faço com o abajur?
Minha resposta vai ser censurada neste espaço. Use a imaginação que vais acertar na alvo. Lógico que seguida de uma gargalhada estrondosa.
Ao final disse a ela algo que acredito piamente:
No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que és,
e outras que vão te odiar pelo mesmo motivo.
Acostume-se!
 
 

domingo, 30 de janeiro de 2011

Tartaruga No Poste




TARTARUGA NO POSTE






Enquanto suturava um ferimento na mão de um velho gari (cortada por um caco de vidro indevidamente jogado no lixo), o médico e o paciente começaram a conversar sobre o país, o governo e, fatalmente, sobre o Lula.
O velhinho disse:
- Bom, o senhor sabe, o Lula é como uma tartaruga em cima do poste...
Sem saber o que o gari quis dizer, o médico perguntou o que significava uma tartaruga num poste.
E o gari respondeu:
- É quando o senhor vai indo por uma estradinha, vê um poste e lá em cima tem uma tartaruga tentando se equilibrar. Isso é uma tartaruga num poste.
Diante da cara de interrogação do médico, o velho acrescentou:
- Você não entende como ela chegou lá;
- Você não acredita que ela esteja lá;
- Você sabe que ela não subiu lá sozinha;
- Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá;
- Você sabe que ela não vai fazer absolutamente nada enquanto estiver lá;
- Você não entende porque a colocaram lá;
Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá, e providenciar para que nunca mais suba, pois lá em cima definitivamente não é o seu lugar.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Dois Presidentes Nordestinos




DOIS PRESIDENTES NORDESTINOS





Nunca antes na história deste país eu soube da existência de tanta arrogância nascer do terreno fértil da ausência de conhecimento. Acho que os neurologistas devem estar se matando para estudar o que acontece quando o crânio humano não está completamente preenchido de neurônios, mas flutuando em desaglutinado atrofiamento por falta de uso.
Olha só como a ORIGEM da pessoa nada tem a ver com a sua formação moral; a moralidade tem muito mais de CARÁTER do que qualquer outra coisa.

DOIS PRESIDENTES: Castello Branco e Lula.
DOIS NORDESTINOS: Um Cearense e Um Pernambucano.

Ao ver Lula defendendo seu filho que recebeu R$ 15 milhões de reais da TELEMAR para tocar sua empresa, Élio Gáspari publicou essa história tirada do fundo do baú:

Em 1966 o presidente Castello Branco leu nos jornais que seu irmão, funcionário com cargo na Receita Federal, ganhara um carro Aero-Willys como agradecimento dos colegas funcionários pela ajuda que dera na lei que organizava a carreira. O presidente telefonou mandando que ele devolvesse o carro.
O irmão argumentou que se devolvesse ficaria desmoralizado em seu cargo. O presidente Castello Branco interrompeu-o dizendo:
 
"Meu irmão, afastado do cargo você já está. Estou decidindo agora se você vai preso ou não".

E o Lula ainda alega que não existe ninguém NESTE PAÍS com mais moral e ética do que ele.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ledo Engano

 
LEDO ENGANO






por Hilda Regina Medeiros (*)











Saudade é um sentimento competente...
Talvez o mais competente de todos.
O Amor se instala, se realiza, se aprisiona e se desmaterializa.
A Amizade, idem... mas sem muita pretensão de TER, apenas SER.
O Ódio é avassalador, mas precisa de eco para sobreviver...
A Saudade não... e por isso maltrata!
Sentir a ausência de algo ou de alguém é fácil e um ato corriqueiro,
Mas não é Saudade...
Saudade é sentir antes de ver, viver antes de nascer...
Saudade é a fênix da vida.
Quando se sabe que nada mais se poderá fazer, ela mostra que resta sentir...
Quando se pensa que já se esgotou tudo o que se pode sentir, ei-la...
Enfim, quando se acredita que nada mais fará a dor aumentar, ela faz a lágrima escorrer...
É... Saudade é isso!
Saudade de mim... De ti... De nós...
Até os nós da saudade são mais belos, mais cegos, mais apertados e mais... Mais!
A saudade pode parecer para um observador desatento
Como uma grave ameaça a própria felicidade...
Ledo engano... É o contrário!
Saudade é apenas um jeito da alma mostrar ao corpo
Que viveu...
Que sorriu...
Que sofreu...
Que lutou...
Que quedou...
Mas, principalmente,
Que o AMOR venceu!

 
*Hilda Regina Medeiros, Advogada, Belém, Pará, Amazônia, Brasil. Escrito em Dezembro/2007.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pátria Madrasta Vil


PÁTRIA MADRASTA VIL






por Clarice Zeitel (*)






∞ Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
∞ Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
∞ O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada — e friamente sistematizada  de contradições.
∞ Há quem diga que “dos filhos desde solo és mãe gentil”, mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para MADRASTA VIL.
∞ A minha mãe não “tapa o sol com a peneira”. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 2000 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro PACOTE que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade... Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
∞ É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebre esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
∞ A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (as vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
∞ Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta — tão confortavelmente situadas na pirâmide social — terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
∞ Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
∞ Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um HOMEM que não se posiciona?
∞ Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.
∞ Algumas perguntas, quando auto indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?





(*) Clarice Zeitel Vianna Silva, Rio de Janeiro/RJ – BRASIL, 26 anos. Bacharel em Direito que, quando acadêmica na UFRJ, concorrendo com outros 50 mil estudantes universitários, VENCEU o Concurso de Redação da UNESCO sobre o tema “Como vencer a pobreza e a desigualdade”.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Voto É A Arma da Mudança


O VOTO É A ARMA DA MUDANÇA




por Eliel Mendes (*)



As eleições estão chegando. Neste ano, o Brasil vai novamente às urnas para, num ato de cidadania consciente, escolher o seu Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Senadores da República e os Deputados Federais, Estaduais e Distritais. Vai ser difícil ficarmos sóbrios nesse dia em virtude das decepções passadas e das poucas opções presentes.
A despeito dos últimos acontecimentos que envolveram a política no Distrito Federal, o voto é a melhor prova de patriotismo e civismo e, ao mesmo tempo, instrumento imprescindível para a consecução das mudanças e para o estabelecimento de um novo momento histórico-político.
O futuro que nos espera não é a fome, nem a impunidade, tampouco a desonestidade, jamais o desperdício e nunca a corrupção. É certo que todas essas mazelas sempre hão de acompanhar o ser humano, em razão de sua natureza egoísta.  No entanto, há uma parcela substancial da sociedade que acredita em dias melhores e, como membro efetivo dessa sociedade, venho até você com essa mensagem de esperança e otimismo.
O Brasil tem jeito. Não é possível que essa riqueza dada por Deus a nós vá se acabar por causa de alguns que são extremamente motivados por interesses pessoais e mesquinhos. Tem jeito sim, principalmente se começarmos por um sistema educacional capaz de transformar o sentimento de impotência como somos vistos hoje. A educação proporciona ao educando a oportunidade de ver o indivíduo como um agente capaz de produzir mudanças para si e para o seu meio. Quem passa pelo processo educacional tem pressa em alcançar o status de cidadão.
O Brasil precisa de escolas. Talvez a existência de muitas salas de aula seja insuficiente para educar o nosso povo. Sim, insuficiente não na quantidade, mas na qualidade. É ai que podemos fazer a diferença! Quem tem qualidade de ensino suplanta a ignorância política e social de uma sociedade.
Se a educação é o ponto de origem da transformação de um povo, como poderemos ter um sistema de saúde restaurado e eficiente, de uma segurança pública digna e competente, de incentivos à geração de empregos e de assistência ao carente no campo social, habitacional e pessoal?
Todavia, qualquer saída apontada passa necessariamente pela honestidade, pela força e pelo trabalho, que formam o alicerce de uma nação gigante. Mas quem pode fazer uma nação gigante é a sua própria gente. E o meio mais eficaz e democrático para isso é o voto.
O voto é a expressão máxima da cidadania. Votar bem é o primeiro passo para se conquistar as mudanças necessárias para nos fazer grandes. Por essa razão o voto não pode ser negociado, nem tampouco ser trocado por favores, sejam eles quais forem.
Há pessoas que querem dominar o nosso voto e, por ser assim, o vende em nosso nome. Enquanto povo organizado, eles acham que nós estamos à venda por telhas, tijolos, madeira, cimento, dentadura, etc., na tentativa de fazer-nos monopólios seus. Mas esses aproveitadores estão enganados. O nosso voto é o voto do cidadão consciente, que sabe da importância da sua cidadania para a consolidação do estado democrático de direito.
Recentemente ouvi de uma pessoa a me pedir para que não visitasse o seu “curral” eleitoral. Para ele, determinada igreja ou grupo de pessoas já estão sob seus “cuidados” políticos e qualquer um que se apresente é grande ameaça para os seus maus intentos.
Não permitamos que pessoas estranhas assumam o direito sobre as nossas consciências no momento do voto. Sejamos nós mesmos os responsáveis em resgatar a dignidade e o respeito por um Brasil apaixonante e que não se envergonha de sua própria gente.
A anulação de voto e o voto de protesto não devem ser exercidos por cidadãos que acreditam que o Brasil será diferente a partir do momento em que o exercício da cidadania seja consciente, sem paixões pessoais e partidárias.
Não deixe de votar, por nenhuma razão. Votando bem, renascem as esperanças de um novo Brasil.


(*) Eliel Mendes, Brasília, Distrito Federal, Brasil.
Fonte: recebido via correio eletrônico.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Os Políticos E O Princípio Ético Republicano






OS POLÍTICOS E O PRINCÍPIO ÉTICO REPUBLICANO






por Paulo Klautau Filho (*)




 



∞ Em editorial do ano de 2009, o jornal paraense “O Liberal” criticou corretamente a utilização abusiva e vazia de conteúdo dos termos “republicano” e “cidadão” por parte de autoridades governamentais. Noto, contudo, que o editorial, apesar de ter citado a definição do dicionário de “cidadão”, deixou de tratar do significado de “republicano”.
∞ Em colaboração à abordagem do jornal, gostaria de oferecer uma sugestão para o conteúdo destes termos, sob o ponto de vista da Teoria Ética.
∞ Numa definição simples, mas suficientemente esclarecedora, pode-se dizer que a Ética é o ramo do conhecimento que se dedica a responder o que é viver uma boa vida, como devemos viver em sociedade e como devemos tratar uns aos outros.
∞ A Constituição Brasileira respondeu essas perguntas, a partir do caput de seu Artigo 1º que dispõe:

A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito...” (sublinhei).

∞ Na leitura que proponho, a república e a democracia, antes de serem formas político-jurídicas, constituem-se nos dois princípios éticos fundantes do Estado inaugurado com a Constituição de 1988.
∞ O princípio ético republicano afirma a supremacia do bem comum sobre os interesses particulares. É certo, porém, que o “bem comum” também não é de fácil definição. E aqui entra o princípio ético democrático, ao afirmar que a definição do bem comum e a fiscalização das autoridades públicas na sua persecução cabe ao conjunto dos cidadãos brasileiros – o “povo soberano”.
∞ Os dois princípios são, assim, indissociáveis e entrelaçados, na medida em que o bem comum do povo é definido pelo próprio povo, como titular do poder de controle político supremo; dito de outro modo, o princípio republicano realiza-se através da prática do princípio democrático pelos cidadãos. Ser cidadão, nestes termos, é se empenhar em definir o bem comum e promovê-lo diretamente ou indiretamente através da fiscalização e do controle da atuação de seus representantes.
∞ A primeira definição do bem comum parte também da própria Constituição Federal ao estipular, como um de seus fundamentos, a dignidade da pessoa humana. A palavra dignidade decorre etimologicamente do latim, do verbo defectivo decet, que significa ser adequado, ser apropriado. Portanto, todo ser humano deve ser tratado adequadamente. Os critérios de adequação do tratamento dispensado aos cidadãos brasileiros residem nos direitos fundamentais individuais, coletivos, sociais, de nacionalidade e políticos arrolados principalmente nos artigos 5º a 17 da Constituição. Em outras palavras, o bem comum constitucional garante a todos os cidadãos brasileiros os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade (art. 5º), à educação, à saúde, ao trabalho, a moradia, ao lazer (art. 6º), entre outros.
∞ Toda a estrutura de poder público instituída pela Constituição de 1988 - os Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios – deve ter como meta de atuação o reconhecimento, a promoção e a proteção dos direitos fundamentais. As autoridades que se conduzirem neste sentido estarão agindo de forma republicana. Cabe, insisto, a todos nós, cidadãos fiscalizar tal conduta.
∞ Eis aqui, portanto, uma proposta de conteúdo para o termo republicano. Lembrando que definir “republicano” é muito mais simples do que agir segundo tal princípio ético. Afinal, quantas autoridades e quantos cidadãos, no exercício de sua vida pública, de fato respeitam a primazia do bem comum sobre seus próprios interesses?
∞ Pelo que, faço uma proposta “cidadã” ao jornal: que indague a cada um dos ocupantes de cargos de primeiro escalão dos três Poderes de nosso Estado, qual a sua definição de “republicano”.
∞ Certamente seria um exercício político-pedagógico dos mais interessantes e instrutivos, no mínimo, pelo que aprenderíamos a respeito de nossos  “representantes".



(*) Paulo de Tarso Dias Klautau Filho, Procurador do Estado do Pará concursado; estudou na USP, onde graduou-se em Bacharel em História e Bacharel em Direito, depois fez Mestrado em Direito na Universidade Federal do Pará - UFPA; "Master of Laws" pela New York University - NYU; e Doutorado em Direito na Universidade de São Paulo - USP.
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