VERGONHA DE QUÊ?
por Hilda Regina Medeiros (*), 22/Janeiro/2011
Em 17 de dezembro de 1914, no Salão do Senado Federal, Rui Barbosa declarou:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Ao fazer este desabafo, Rui Barbosa estava defendendo o requerimento sobre o CASO SATÉLITE – uma chacina de presos – que ia de encontro a impunidade dos assassinos confessos, depois de quase quatro anos do fato criminoso.
Seria Rui Barbosa um profeta?
O inflamado discurso de outrora foi tão-somente uma observação do cotidiano que presenciava. Entretanto, ainda hoje, decorrido quase um século, a impunidade no Brasil perdura.
Onde está a novidade?
Trata-se apenas do reflexo da continuidade do triunfo das nulidades, da prosperidade da desonra, do crescimento da injustiça e do agigantamento do poder nas mãos de alguns poucos que – por deterem a trajetória da vida cotidiana ou profissional – não identificam no ato a responsabilidade que possuem. O que existe é uma inversão de valores. Hoje, o princípio subjaz nos abusados casos de corrupção no Congresso Nacional. Contudo, resta uma indagação: não estaria também entranhado em outros setores da vida nacional?
Poder nas mãos dos maus.
Será mesmo que a maldade é a delimitadora das ações dos poderosos? Não creio muito nisso, infelizmente. É simples demais. Acredito que quando homens públicos procedem na contramão da honra, agem como quem acredita que não é o cachorro que abana o rabo, mas o rabo que abana o cachorro. Conheço uma mulher de caráter excepcional que costuma dizer: a verdade está geralmente no meio do caminho.
Faça o que eu digo ou quero, não o que eu faço.
Na questão político-partidária, felizmente temos instrumentos para reciclar e fazer as mudanças que o poder do voto nos garante para extirpar esses “apêndices”, antes que supurem de vez. Entretanto, a cicatriz que fica é danosa para a sociedade, visto que – por causa de suas posturas infames – causam nas pessoas de bem, um desânimo crônico que aparecem por causa da suscetibilidade. Estamos carentes de bons exemplos. Conheço gente que dentro da própria casa é de um cuidado extremo com a limpeza, em compensação, joga lixo na rua e quando falo, afirmam: “temos que garantir trabalho para os garis”. Pra variar, eu rebato na hora: “isso é hipocrisia pura”.
Suscetibidade é a expressão de despeito ou de mágoas na pessoa que se julga ofendida pelo que outrem lhe diz. Puro melindre.
Verdade se diga: o mau exemplo é contagioso. Ronaldo – dito O FENÔMENO – pra ganhar com publicidade, esqueceu que era atleta e se tornou garoto-propaganda de cerveja. Convenhamos, é lícito, mas totalmente amoral. Em períodos eleitorais, eu sempre tenho motivos pra gargalhar, já que chorar não vai mudar o quadro. Vemos candidatos que passaram temporadas apontando o defeito um do outro e – como por encanto – basta uma reviravolta eleitoreira pra que sejam ouvidas declarações de amor de um lado a outro.
E, agora, o PEDIDO DE APOSENTADORIA do Senador da República Álvaro Dias, do PSDB/PR. Pedido, diga-se de passagem, TOTALMENTE LEGAL, mas de uma AMORALIDADE sem precedentes. Justamente durante o recesso legislativo, surge uma voz cálida, sussurrante no TWITTER... Voz composta de letras que vão tomando corpo, espaço e atingem o ápice da sonoridade muda da Rede Social. O movimento ENSURDECEDOR calou seus seguidores fiéis - sim, fidelíssimos.
O que dá rir, dá pra chorar. É só questão de peso e medida.
No Brasil agora é assim. SERVIDOR PÚBLICO vira DEUS ou SANTO ou PASTOR DE OVELHAS ou POP STAR. Os SEGUIDORES/FÃS se perdem na exegese básica da forma e do conteúdo. Esquecem que o que está AVILTANDO os ELEITORES TUCANOS não é o cometimento de alguma indelicadeza, mas sim a conduta AMORAL de um SERVIDOR PÚBLICO que - até pouco tempo atrás - recebeu prêmio no Congresso Nacional por ações de relevante valor social.
Não estou aqui para TAPAR O SOL COM A PENEIRA DA INDULGÊNCIA. Quem vem a público arvorar-se a recebimento de aplausos, elogios, prêmios e honrarias - como o próprio Luís Inácio Lula da Silva vive fazendo - não pode, EM HIPÓTESE ALGUMA, pretender que se atenue os efeitos da gravidade de uma FALTA. Sim, FALTA, visto que não houve o cometimento de um CRIME - que é infringir dispositivo legal.
Quem faz UMA, faz DUAS, faz TRÊS! E, assim, VIRA FREGUÊS!
A conduta do Senador paranaense Álvaro Dias é CENSURÁVEL, INOPORTUNA, AMORAL e INDIGNA para alguém que, em assim atuando, rasgou a própria biografia. Entretanto, ressalto, minha MANIFESTAÇÃO SE PRENDE AO FATO E NÃO A PESSOA DO CIDADÃO ÁLVARO DIAS.
N'um momento onde o Salário Mínimo não chega aos 600 reais, onde os Congressistas aumentaram seus salários e mordomias, onde uma região inteira - em especial a serrana - passa por dificuldades vitais de existência... E assim, NA CALADA DA NOITE, sem holofotes, manchetes, repercussão e propaganda pessoal.
Então, é isso. Vou seguindo pela vida observando o que todo mundo faz. Agora, deixe que diga, que pense, que fale... Deixe isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem? Eu não não estou fazendo nada. Você também! Que ninguém reclame dos meus textos ou da minha opinião. Se quiser expressar a sua, comente o texto ou me prove que estou errada. O bom da internet é isso: aqui não precisa estresse, basta ignorar.
O PAU QUE DÓI EM CHICO, TEM QUE DOER EM FRANCISCO.
Estude. Interesse-se pelos grandes feitos do passado e seus autores. Largue mão desta idiossincrática existência, pois TUDO LHE DIZ RESPEITO. Se realmente acreditas que o que CONSOMEM EM BRASÍLIA não te afeta, é porque a tua IGNORÂNCIA não te permite saber que FAZEM FESTAS COM TEU DINHEIRO, VIAJAM COM A FAMÍLIA COM TEU DINHEIRO, MORAM EM MANSÕES COM TEU DINHEIRO, TEM CARROS IMPORTADOS COM TEU DINHEIRO...
Ahhh Achas que por não recolheres o Imposto de Renda não usam o teu dinheiro? - gargalhadas - No leite que compras, pagas imposto. No pão, idem. Carne, arroz, cerveja, cigarro, ônibus... Enfim, ACORDA! Estás sustentando VAGABUNDO - sinônimo de OCIOSO que nada mais é que o sujeito que nada faz de útil - E A FAMÍLIA E AMIGOS DELE.
Honestidade é virtude sim, contudo é também obrigação de cada um perante si mesmo e o próximo.
Colocar no mesmo texto Rui Barbosa com qualquer senador atual é até um ultraje, mas quem sabe alguém aprenda algo com isto.
Finalizando meu direito constitucional de OPINIÃO, eu digo: antes de ter vergonha de ser um brasileiro honesto, aprenda a captar as ondas básicas das condutas sem-vergonhas que existem por aí, inclusive a que tu mesmo cometes.
Até a próxima.
(*) Hilda Regina Medeiros, advogada - Belém do Pará, Amazônia, Brasil.
5 comentários:
praticamente cada parágrafo mereceria um comentário, como não dá, acho que o importante é que cada habitante deste país vire um cidadão pleno dos seus direitos e deveres. aí só assim em vez de país, seremos uma nação. e políticos nos temerão. sim, na verdadeira democracia, os políticos temem e respeitam cada cidadão, por saber que ele quando eleitor vira senhor dos destinos deles.
Perfeito sua análise, num País onde nem o Presidente respeita as leis, usa de seu prestígio pessoal e popularidade para obter proveitos para os seus, como vc diz, pode não ser ilegal mas é amoral. A partir daí, esperar o que? Professores que não podem reprovar alunos, Magistrados envolvidos em falcatruas, pais que não pode sequer dar uma palmada nos filhos, ora, a inversão de valores está disseminada em nossa sociedade. Choque de moralidade é o que o Brasil precisa.
"Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito." Juca de Oliveira
Cada vez mais,Hilda, penso que a única solução p/ nosso país, é que ele fosse descoberto de novo e, de preferência, por outro país...
Quem sabe assim não teríamos mais sorte? Nada contra os portugueses, mas teríamos uma nova chance,não é? Quem sabe...
Desanima qualquer brasileiro,por mais patriota q seja, pensar q este nosso país possa um dia se tornar um país sério...
Gostei mto do seu texto; sua gde indignação também é nossa!
Parabéns por ser a mensageira dos nossos pensamentos tb!
Gde abç.
Zinha
O respeito a lei é um contrato informal, ao qual todo cidadão (na mais completa assepsia da palvara)esta obrigado a seguir, e dentro dele exigir a contrapartida, a qual todo bom contrato esta sujeito. Desrespeito a lei, é desrespeitar a maior instituição de um país, a justiça.
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