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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pátria Madrasta Vil


PÁTRIA MADRASTA VIL






por Clarice Zeitel (*)






∞ Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
∞ Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
∞ O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada — e friamente sistematizada  de contradições.
∞ Há quem diga que “dos filhos desde solo és mãe gentil”, mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para MADRASTA VIL.
∞ A minha mãe não “tapa o sol com a peneira”. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 2000 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro PACOTE que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade... Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
∞ É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebre esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
∞ A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (as vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
∞ Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta — tão confortavelmente situadas na pirâmide social — terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
∞ Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
∞ Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um HOMEM que não se posiciona?
∞ Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.
∞ Algumas perguntas, quando auto indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?





(*) Clarice Zeitel Vianna Silva, Rio de Janeiro/RJ – BRASIL, 26 anos. Bacharel em Direito que, quando acadêmica na UFRJ, concorrendo com outros 50 mil estudantes universitários, VENCEU o Concurso de Redação da UNESCO sobre o tema “Como vencer a pobreza e a desigualdade”.

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