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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Da Eleição da OAB e os Mangás de Minha Infância

DA ELEIÇÃO DA OAB E OS MANGÁS DE MINHA INFÂNCIA

Por Eduardo Sarmento Cunha, em 07/Agosto/2009 (*)
É de causar estranheza aos nossos olhos presenciar o embate feroz dos leões se digladiando. Feras tão majestosas, de naturezas tão inexpugnáveis, quase quiméricas, despindo-se de sua potestade, despojando-se de toda nobreza de seus títulos nobiliárquicos e de seus postos de monarcas, para descer fragilizados à arena, tais quais reles e vulgares chacais em seus covis disputando um parco pedaço de putrefata carcaça. Enquanto entrelaçados em suas refregas sanguinárias e cruentas parecem, à nossa vista, tão vulneráveis que imaginamos que se atirássemos uma pequena pedra faríamos soçobrar todo seu castelo de reis da floresta. Mas não se enganem os leões com suas empáfias tradicionais travam batalhas tão-só uns contra os outros, com os da sua estirpe e diferentemente da fábula bíblica devoram Davis roendo-os até os ossinhos.
Mais interessante é a briga entre piratas e mercenários. Ébrios e fanfarrões batem armas entre si pelos motivos mais tolos possíveis apenas para provarem suas habilidades de espadachins ou para aplacar o tédio dos dias monótonos sem batalhas. Entre pilhérias e manobras acrobáticas de seus floretes acusam-se de trapaças; de cartas marcadas; de furtos de um olho de vidro ou de dobrões de ouro. Quando a lassidão lhes chega, alquebrados, sucumbem e tornam a se abraçar fraternalmente entornando goela abaixo mais um barril de rum, e entre um gole e outro, brindam rememorando as aventuras passadas em outras fragatas, os tesouros repartidos e seguem planejando suas próximas pilhagens.
O que dizer então das hilárias discussões dos congressistas e dos membros da cúpula do Judiciário? Estas eu não perco por nada deste mundo. A imperiosa necessidade de conjugar o que é incompatível, ou seja – os impropérios às honrarias designadas às funções que ocupam – é tão absurda que as frases se tornam risíveis, burlescas. Daí surgem pérolas como, “V.Exa é um ladrão, um babaca”, ou ainda: “V.Exa me respeite, não sou um de seus capangas do Mato Grosso, o senhor destruiu o judiciário brasileiro...". É como se o “V.Exa” preservasse certa dignidade aos adjetivos abjetos que sucedem. Caso retirado o pomposo “Vossa Excelência”, acabariam, em última análise, por macular a própria função, ultrajando a si próprios, uma vez que os ofensores são de igual forma “Vossas Excelências”.
Mesmo os reis e os nobres não estão livres destes arroubos. Perdendo a fleuma, por vezes bradam “porque non te callas?”. Alguns Presidentes, ao seu turno, preferem algo mais contundente como: “vayanse al carajo yankkes de mierda”, esquecendo-se do lema, “hay que endurecer pero sin perder la ternura”que lhes guiava nos tempos de la revolucion.
Não tão diferente das feras, corsários, políticos e nobres é a luta das alianças, ou seja, as famosas brigas de casais. No meio de maridos desesperados flagrados com mulheres espúrias – que até então acreditávamos se tratar apenas de suas secretárias e estagiárias – e esposas enciumadas, neuróticas e a beira de um ataque de nervos, não sabemos para onde correr, que direção tomar? Convidar a quem para aquela festa de inauguração de seu AP? Em quem acreditar? Que partido tomar, o da esposa supostamente traída ou do marido e de sua nova aliança? Sei não, se fugimos de Caríbdis caímos em Cila. Se estiverem separados, amanhã quem sabe haja reconciliação; se estão juntos, quiçá permanecerão. O melhor mesmo parece ser seguir o velho ditado popular e não meter a colher.

Gosto mesmo é da porrada entre mulheres (desculpem o baixo calão, mas a palavra neste caso é insubstituível). Quanto mais barraqueiras e escandalosas, melhor. Sem pudores, achincalham-se, acusam-se de putas, vagabundas, mentirosas, falsas, traíras, e de loiras oxigenadas. No calor do momento, vingativas, entre um puxar e outro de cabelos, em nome de suas vindictas, expõem seus conchavos e suas vidas pessoais aos quatro cantos e em alto e bom som, para quem quiser ouvir. Que aquelazinha, antes de sua ajuda, chafurdava na lama com Cicrano; que a outra sempre fora vista em hotéis de alta rotatividade na companhia de Beltrano, e por ai vai. Passada a peleja, têm vergonha de sair às ruas.

Brigas e embates à parte, tenho saudades mesmo é dos combates travados pelos Samurais, personagens dos mangás que acompanharam minha infância. Nos quadrinhos daquelas páginas amarelecidas lidas de trás para frente, esses bravos e briosos heróis e vilões erguiam suas katanas afiadas apenas para defender com hombridade sua casta, a honra de seus ancestrais e as reivindicações de sua classe. Seus rígidos códigos de honra não permitiam humilhações a seus rivais de armas. Quando desonravam seus ideais, cravavam profundamente o tanto em seus estômagos até que atingisse as entranhas. Eleição da OAB/PA ai, às portas, seria prudente deixarmos de lado as feras, corsários, barraqueiras e etc., e nos mirarmos no exemplo destes nobres paladinos orientais dos mangás. Por falar em mangás, ainda me restaram alguns guardados em uma empoeirada caixa de tralhas velhas. Meus caros senhores, querendo: empresto. Arghhhh


(*) Eduardo Sarmento Cunha, é Advogado em Belém do Pará. Possui o blog Anti-herói Contemporâneo
MEDIADOR/A cantarola: "O TEMPO PASSA... O TEMPO VOA... E A SUCUPIRA BRASILEIRA CONTINUA N'UMA BOAAA..."

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